Post por Silvia Soldi
Do Felipe? Eu me lembro de tudo: ele era moreno de pele marrom quase vermelha, tinha pinta na boca, olhos meio puxados e cabelo preto. E era fato: eu ia gostar a vida toda de meninos morenos com pinta na boca e cabelos pretos. Também era inteligente demais, educado demais, queridinho demais e tinha cara de mais velho do que os outros meninos de 09 anos, ou seja, era quase um príncipe. E até onde eu sabia tinha apenas um defeito: gostar da Daniele Quiqueto... Já eu, além de não ser morena, não ter pinta na boca nem olhos puxados, ainda carregava o mal de ser amiga da mesma Daniele. Um inferno a imagem dela que eu também nunca esqueci.
Do Felipe? Eu me lembro de tudo: ele era moreno de pele marrom quase vermelha, tinha pinta na boca, olhos meio puxados e cabelo preto. E era fato: eu ia gostar a vida toda de meninos morenos com pinta na boca e cabelos pretos. Também era inteligente demais, educado demais, queridinho demais e tinha cara de mais velho do que os outros meninos de 09 anos, ou seja, era quase um príncipe. E até onde eu sabia tinha apenas um defeito: gostar da Daniele Quiqueto... Já eu, além de não ser morena, não ter pinta na boca nem olhos puxados, ainda carregava o mal de ser amiga da mesma Daniele. Um inferno a imagem dela que eu também nunca esqueci.
Eu falava com o Felipe, mais por insistência minha do que por vontade dele, isso é verdade, e me lembro tragicamente do único dia em que ele me notou... aquele dia fatídico em que usei meu 1º sutiã. Eu me lembrava de não querer colocar aquilo mas quando você é criança tem uma série de vexames a passar que são como uma espécie de purgatório até o seu crescimento. Me lembro das meninas e dos meninos me olhando e ainda posso ouvir a voz de Felipe me dizendo: “mas pra que sutiã se você não tem peitos?”.
E foi só muito tempo depois, que eu percebi que aquele príncipe não era tão encantado assim: descobri que às escondidas, o Felipe sempre colocava o dedo no nariz, e esse defeito, pra mim, era pior do que o de gostar da Daniele. Mas o “nosso” amor só acabou quando eu mudei de escola, deixando o velho Edgard Cavalheiro para trás. Me lembro do último dia na escola, em que me sentei na porta do pátio e chorei sozinha. Sabia que eu nunca mais voltaria ali e que talvez nunca mais visse o Felipe.
E ainda hoje, sabe-se lá porque, sempre que eu me lembro dele, eu fico um pouco triste. Talvez porque ele não fosse tão encantado, talvez por ele ter escolhido a Daniela. A única certeza que ficou é que depois desses primeiros anos de escola, nenhum menino nunca mais me disse que eu não tinha peitos. A década de 90 me trouxe o bojo e alguns outros Felipes... e eu os encantei...
Auto Retrato: Dreams